terça-feira, 27 de dezembro de 2005

Paracelso

"Aqueles que pensam que todos os frutos amadurecem ao mesmo tempo que as cerejas é porque nada sabem das uvas."
século XVI, Paracelso, médico alemão

segunda-feira, 19 de dezembro de 2005

Tamareira


A tamareira, Phoenix Dactylifera em que Phoenix é o equivalente a fenícios (Phoenician em grego) que foram os primeiros a cultivar e a dispersar o seu uso. Outra origem para o nome seria a da ave mítica dos gregos, Phoenix.
Dactylifera vem da palavra grega dactylos que significa dedos, embora na antiga língua dos hebreus e sírios dactylifera, já seja o nome dado à tamareira.
Este nome é conhecido desde os tempos de Theophrastus, (famoso botânico 370-85BC)

É uma palmeira habitual no Médio Oriente e que se dá bem em Portugal, ainda não percebi porque existe tantas palmeiras do tipo Phoenix canariensias cujo fruto embora comestível não tem nem polpa nem sabor comparável ao da tâmara

Em África a tamareira serve de suporte de alimentação a 80 milhões de pessoas

Os frutos na sua evolução, vão passando por uma série de fases quem em árabe têm uma designação própria:

Primeira fase – Hababouk – Os frutos são ovóides, ainda pequenos e amarelos, amarelos claros ou amarelos esbranquiçados.

2ª. f. – Kimri – Os frutos atingem o crescimento total, tornam-se alongados, a cor passa pelo esverdeado e no fim estão fisiologicamente maduros.

3ª f.– Kalal – Os frutos tornam-se amarelos, iniciam um processo de perda de humidade, os açúcares redutores da polpa vão diminuindo e aumentando a percentagem de sacarose.

4ª f.– Routab – Dá-se uma perda de água muito mais sensível, os frutos tornam-se avermelhados e os teores de açúcar redutores da polpa não excedem metade dos açucares totais.

5ª f.– Tmar – Os frutos passam a cor castanha, continuam a perder massa pela redução de humidade, os açucares atingem na polpa percentagens de tal modo elevadas que não há possibilidade de haver qualquer fermentação.

È no fim desta quinta fase que os frutos atingem a maturação comercial, muito mais tarde que a maturação fisiológica.

Os árabes dizem que a tamareira deve ter os pés na água e a cabeça ao sol ardente.

sexta-feira, 9 de dezembro de 2005

Os setes sapatos sujos

Segundo Mia Couto, 
A opinião de: Mia Couto
Oração de Sapiência na abertura do ano lectivo no ISCTEM
[...]Existem, no entanto, várias formas de pobreza. E há, entre todas, uma que escapa às estatísticas e aos indicadores numéricos: é a penúria da nossa reflexão sobre nós mesmos.
Falo da dificuldade de nós pensarmos como sujeitos históricos, como lugar
de partida e como destino de um sonho. [...]
[...]Eu contei sete sapatos sujos que necessitamos deixar na soleira da porta dos tempos novos[...]
O primeiro sapato: a ideia que os culpados são sempre os outros e nós
somos sempre vítimas[...]
Segundo sapato: a ideia de que o sucesso não nasce do trabalho[...]
Terceiro sapato- O preconceito de quem critica é um inimigo[...]
Quarto sapato: a ideia que mudar as palavras muda a realidade[...]
Quinto sapato A vergonha de ser pobre e o culto das aparências[...]
Sexto Sapato A passividade perante a injustiça[...]
Sétimo sapato - A ideia de que para sermos modernos temos que imitar os
outros[...]

(Extraído do Vertical N° 781, 782 e 783 de Março 2005)

quarta-feira, 30 de novembro de 2005

Mário Quintana

O segredo é não correr atrás das borboletas...
É cuidar do jardim para que elas venham até você.
Mario Quintana (1906-1994)

sábado, 19 de novembro de 2005

Variedades de peras

Esta é uma parte da lista de “Inventariação das variedades tradicionais e espécies vegetais autóctones com potencial interesse agrícola” publicada pelo Ministério das Cidades, do Ordenamento do Território e do Ambiente e no que diz respeito a peras.

Os franceses e os ingleses fazem uso das suas variedades de peras e conhecem-nas. E nós conhecemos as nossas variedades autóctones?

Confesso que muitas delas não conheço. Mas a que prefiro é a pêra rocha
Segue a lista e com a localidade de origem

Amorim- Alcobaça

Amorim Branco - Vila Real

Amorim Preto - Terras de Bouro

Anguinha = Pera de água Santarém

Baguim Bobadela - Boticas

Baguim da Cordinhã - Cordinhã, Cantanhede

Baguinho de Boticas -Dornelas - Boticas

Bela Feia-Oliveirinha - Alcobaça

Bobadela - Bobadela - Boticas

Bojarda das Caldas da Rainha -Caldas da Rainha

Bojarda de Ansião -Cômoros de Cima, Ansião

Boticas – Boticas

Cabaça grande - Santarém

Cabacinha Silgueiros - Viseu

Cabeça Pequena - Santarém

Carapinheira - Coimbra

Carapinheira Branca – Alcobaça

Carapinheira Parda – Alcobaça

Carvalha - Santarem

Castela -Soure

Coradinha - Vila Real

Coxa de Freira - Alcobaça

Cristo Ferreira – Coimbra

Figueiroa ou coxa de freira Mirandela

Fim de Século - Mirandela

Formiga Terras de Bouro - Covide

Formiga de Ansião - Ansião

Formiga de Coimbra - Coimbra

Formiga de Leiria - Leiria

Formosa –Mirandela

Joaquina - - Carvalhais – Mirandela

Lambe os dedos – Leiria

Marcelino - Santarém

Marquesa ou Marquesina -Moimenta da Beira

Outonal – Mirandela

Pêra Achatada-Chão de Couce, Ansião

Pêra Amêndoa - Coimbra

Pêra Bonita - Santarém

Pêra branca - Santarém

Pêra Brava- Ansião

Pêra Cabaça Vário locais e produtores

Pêra Cabaço - Boticas

Pêra Carvalhal Resende - locais e produtores

Pêra chata - Chão do Couço - Ansião

Pêra D. Joaquina - locais e produtores

Pêra d’água ou Inverneira

Pêra d’água rija - Tras – os- Matos - Pombal

Pêra de água macia - Tras – os- Matos - Pombal

Pêra de Assar - Ansião

Pêra de cozer

Pêra de Esmolfe -Esmolfe, Penalva do Castelo

Pêra de Ferreira - Condeixa

Pêra de Inverno - Vários locais e produtores

Pêra de Martingil

Pêra de Outono Vila Real

Pêra de palmo -Vila Real

Pêra de Tapeus – Tapeus

Pêra Delícia -Leiria

Pêra Doce - Vaçal - Valpaços

Pêra Inverneira - Silgueiros, Viseu

Pêra Manuel Resende - Resende

Pêra Marmela - Silgueiros, Viseu

Pêra Marmela - - Boticas

Pêra Marmela - Santarém

Pêra melão de Santarém -Santarém

Pêra Pão - Vário locais e produtores

Pêra Parda - Silgueiros, Viseu

Perlica - Alcobaça? Coimbra?

Pérola - Alcobaça

Pérola Amarela - Vário locais e produtores

Pérola Branca - Minho

Pérola de Leiria - Leiria

Pérola Parda - Cômoros de Cima, Ansião

Pigarça - Bobadela - Boticas

Pirolito de Inverno - - Esposende

Precoce de Silgueiros -Silgueiros, Viseu

Rabiça de Alcobaça – Alcobaça

Rabiça de Leiria - Porto de Mós, Leiria

Rabiça de Vila Real

Rocha Vário locais e produtores e vários clones

Rosa– Alcobaça

Rosa de Soure -Soure

Rosada -Bobadela – Boticas

S. Bartolomeu de Alcobaça Vário locais e produtores

S. Bento de Chaves - Carvalhais - Mirandela

S. Crespim - Torres Novas

S. João Cabaça - Gerês - Fafião

Santo António – Alcobaça

Santo António de Leiria - Porto de Mós

São João de Silgueiros - Silgueiros, Viseu

São João de Ventosa

Sete cotovelos de Alcobaça

Sete cotovelos de Melgaço - Cabanas

Super D. Joaquina

Tipo Bosque -Vila Real

Torrão de açúcar - Bobadela - Boticas

Triunfo - Mirandela

quarta-feira, 16 de novembro de 2005

Tolerância

Houve alguém que também não se esqueceu deste dia.

Hoje é o dia Mundial da Tolerância, palavra pouco usada e praticada, até nas relações do dia a dia, o laboratório ideal para se desenvolver a sua prática.

O maior inimigo dela é o outro.

Afinal o outro é diferente de nós, e nós por mais que queiramos não somos tudo nem o centro do mundo.

Compreender, perceber, apreender o outro e crescer com ele e não só aceitar

A comemoração da tolerância nos dias de hoje mereceria um lugar de destaque que não vai ter.

segunda-feira, 14 de novembro de 2005

Sementeira

    Cresce a semente
    lentamente
    debaixo da terra escura.
 
    Cresce a semente
    enquanto a vida se curva no chicomo
    e o grande sol de África
    vem amadurecer tudo
    com o seu calor enorme de revelação.
 
    Cresce a semente
    que a povoação plantou curvada
    e a estrada passa ao lado
    macadamizada quente e comprida
    e a semente germina
    lentamente no matope
    imperceptível
    como um caju em maturação.
 
    E a vida curva as suas milhentas mãos
    geme e chora na sina
    de plantar nosso suor branco
    enquanto a estrada passa ao lado
    aberta e poeirenta até Gaza e mais além
    camionizada e comprida.
 
    Depois
    de tanga e capulana a vida espera
    espiando no céu os agoiros que vão
    rebentar sobre as campinas de África
    a povoação toda junta no eucalipto grande
    nos corações a mamba da ansiedade.
 
    Oh! Dia de colheita vai começar
    na terra ardente do algodão!
 
    1955 1a Versão José Caveirinha

Recomeçar

Recomeça ...
Se puderes,
E os passos que deres,
Nesse caminho duro
do futuro,
Dá-os em liberdade
Enquanto não alcances,
Não descanses.
De nenhum fruto queiras só metade.

 
Miguel Torga

sexta-feira, 11 de novembro de 2005

Numa época em que o homem adorava árvores

Na tentativa de salvar post antigos do Amador da Natureza e também por falta de tempo de criar post novos, vou reeditando alguns.
Este blog vai-se desenvolvendo com alguns documentos que vou tirando dos meus arquivos, sem eu propriamente intervir, falta de tempo, acima de tudo. De qualquer maneira vou partilhando ideias …
Este é o estrato duma lenda que sustenta um dos mitos do cambolé afro-brasileiro. Embora não professe o sentido religioso do texto crio sempre uma empatia especial com qualquer referência que me faça lembrar que houve uma época em que o homem adorava árvores
“No começo dos tempos, a primeira árvore plantada foi Iroco.
Iroco foi a primeira de todas as árvores,
mais antiga que o mogno, o pé de obi e o algodoeiro.
Na mais velha das árvores de Iroco, morava seu espírito.
E o espírito de Iroco era capaz de muitas mágicas e magias.
Iroco assombrava todo mundo, assim se divertia.
À noite saía com uma tocha na mão, assustando os caçadores.
Quando não tinha o que fazer, brincava com as pedras
que guardava nos ocos de seu tronco.
Fazia muitas mágicas, para o bem e para o mal.
Todos temiam Iroco e seus poderes
e quem o olhasse de frente enlouquecia até a morte.
(...)”. PRANDI, Reginaldo. Mitologia dos Orixás. São Paulo: Companhia das Letras, 2001. p. 164.

terça-feira, 8 de novembro de 2005

Costela de Adão

Foto

Esta planta, Monstera deliciosa Liebm., da família das Araceae, conhecida em Portugal por costela de Adão, tem um fruto bastante saboroso.

Normalmente isto é desconhecido pela maior parte das pessoas, embora no Mercado do Funchal ele seja vendido.

Em vaso a planta normalmente não dá fruto, mas quando colocada em terra, uma planta de dois anos já produz. Como planta é uma trepadeira, e gosta de sombra. É vista muito como ornamental em Portugal.

As folhas e os caules desta planta são tóxicos, têm ácido oxalico. O fruto deve ser comido quando está maduro, isso nota-se porque tem uma casca composta por segmentos hexagonais verdes, quando o fruto está maduro, soltam-se revelando uma polpa esbranquiçada por baixo também distribuída em hexágonos.

O busílis da questão é que nos vértices destes hexágonos existem uns umas pequenas lascas pretas, que juntamente com a polpa podem ser desagradáveis quando se comem.

A minha técnica é com um garfo levantar devagar a polpa banca, as pequenas lascas ficam agarradas à parte central do fruto.

Estes frutos estão quase a amadurecer nesta época do ano.

O sabor do fruto lembra uma mistura de banana e ananás.

segunda-feira, 7 de novembro de 2005

Murta




As árvores pelo seu porte, sobressaem na paisagem, os arbustos, mesmos quando se trata de um arbusto monumental, pode passar depercebido. No jardim de Évora onde tirei esta fotografia, até se afirmam, destacados

Este é um arbusto monumental, não sei a idade mas concluo-o pela espessura do tronco tipo de nós e casca. Permite também pelo seu tamanho admirar com um olhar mais próximo o trabalho da natureza.

Trata-se da murta ou murteira (Myrtus communis) é um arbusto da família das Myrtaceae, uma das famílias de plantas que mais aprecio, fiquei a saber, embora tarde, que foram levadas sementes para o espaço desta planta. O objectivo é fazer testes sobre a germinação de plantas nativas de vários países. O projecto é a bordo do Vaivém Espacial Endeavour (voo STS-108, Dezembro de 2001) e faz parte dum projecto Ciência Viva, infelizmente a página do projecto não tem mais informação sobre os testes.

A utilização referenciada para esta planta: Alimentar (aperitivo, um licor obtido por infusão alcoólica dos murtinhos e designado por "arrabidino"); cosmética (óleo essencial obtido a partir das folhas), medicinal (anticatarral e antiséptica); ornamental.

sábado, 5 de novembro de 2005

Pablo Neruda


Se não puderes ser um pinheiro, no topo da colina,
sê um arbusto no vale, mas sê
o melhor arbusto à margem do regato.
Sê um ramo, se não puderes ser uma árvore.
Se não puderes ser um ramo, sê um pouco de relva
e dá alegria a algum caminho.

Se não puderes ser uma estrada,
sê apenas uma senda,
se não puderes ser o Sol, sê uma estrela.
Não é pelo tamanho que terás êxito ou fracasso...
mas sê o melhor no que quer que sejas.

quinta-feira, 3 de novembro de 2005

Anis estrelado e a gripe das aves





A Natureza vai-nos surpreendendo, ou somos nós que ainda a não olhamos como deve ser.

Consta numa notícia do jornal Expresso que o famoso Tamiflu , o medicamento anti-viral mais eficaz no combate à propagação da gripe das aves, H5N1, no homem (cujo princípio activo é o oseltamivir) é retirado do anis estrelado.

O anis estrelado, Illicium verum é uma árvore da família das Magnoliaceae, é nativo da China e do Vietname.

A extracção é feita a partir das sementes. Neste momento a Roche, passou a consumir cerca de 90 por cento da totalidade do "Anis-estrelado" produzido em todo o mundo.

A minha constatação é:
A gripe das aves apareceu na Ásia.
Na Ásia existe uma planta que tem um princípio activo que parece ser eficaz no seu tratamento.

É normalmente utilizado como tempero em pratos de aves, ou até em bifes e ovos.

Nos supermercados qualquer dia esgota, vou aproveitar para insistir neste tempero, sabendo todavia que uma dose de principio activo extraído quimicamente duma planta corresponde a uma quantidade enorme de sementes.


A foto da flor e do fruto seco

quarta-feira, 2 de novembro de 2005

Gastão Cruz

· Duas Hortas (Estoi)

Havia a horta havia
um limoeiro
ao fundo alfarrobeiras à frente as
oliveiras, no muro uma passagem
depois de atravessarmos
a estrada

Na horta atrás da casa laranjeiras
figueiras e uma
romãzeira junto à nora

Às vezes vagarosa a mula com antolhos
rodava toda a tarde
fazendo os alcatruzes despejar
incessantemente água

sexta-feira, 28 de outubro de 2005

As abelhas, os hexágonos e alguma especulação


Retirei esta fotografia dum excelente blog sobre matemática

Tenho ouvido sempre dizer, que as abelhas fazem hexágonos. A minha questão é: farão?

As minhas dúvidas:

-As abelhas se desenhassem hexágonos sucessivos, os intervalos entre eles seriam regulares, dito de outra maneira, se as abelhas ao construir primas hexagonais as paredes teriam a mesma espessura.


-Nota-se numa colmeia que entre três hexágonos, e vê-se bem na fotografia, existe uma espécie de triângulo.

-Se repararem na construção da colmeia, a abelha ao construir um favo roda sobre ela própria com um centro geométrico próximo do centro do seu corpo.

-A energia gasta a fazer uma secção circular é menor que a fazer faces e aresta dum hexágono.

A minha opinião:

As abelhas constroem favos redondos, com a entrada e saída vão pressionando as paredes de uns contra os outros e estabelecem a forma hexagonal com o espaço intersticial original das três circunferências


Pode-se observar que alguns hexágonos são muito arredondados.

Não sei se esta especulação tira alguma poesia ao trabalho das abelhas, mas com estes ddos é só um exercício especulativo.

abelhas e




Retirei esta fotografia dum excelente blog sobre matemática

Tenho ouvido sempre que as abelhas fazem hexágonos. A minha questão é: farão?

As minhas dúvidas:

-As abelhas se desenhassem hexágonos sucessivos, os intervalos entre eles seriam regulares, dito de outra maneira, se as abelhas ao construir primas hexagonais as paredes teriam a mesma espessura.


-Nota-se numa colmeia que entre três hexágonos, e vê-se bem na fotografia, existe uma espécie de triângulo.

-Se repararem na construção da colmeia, a abelha ao construir um favo roda sobre ela própria com um centro geométrico próximo do centro do seu corpo.

-A energia gasta a fazer uma secção circular é menor que a fazer faces e aresta dum hexágono.

A opinião

As abelhas constroem favos redondos, com a entrada e saída vão pressionando as paredes de uns contra os outros e estabelecem a forma hexagonal com o espaço intersticial original das três circunferências

Pode-se observar que alguns hexágonos são muito arredondados.

Não sei se esta especulação tira alguma poesia ao trabalho das abelhas, mas gostava de

sexta-feira, 7 de outubro de 2005

Melancia


Uma talhada de melancia
É uma rosa com pintas negras
Traz o deleite de quem cicia
Líquidos cantos por entre pedras

É uma frescura é uma cor
Que se dissolve ou se evapora?
É um vento doce sobre o calor
É flor que beija quem a devora

Devora não Tão manso e fundo
Prazer é dado na melancia
Que é brandamente que ela se funde
Na nossa boca que a acaricia

Alberto de Lacerda

segunda-feira, 3 de outubro de 2005

Maboque ou Massala



O maboque, Strychnos spinosa, Lam, da família das Strychnaceae, é um fruto do sul de África Através de uns amigos consegui um destes frutos, nunca o comi ao natural e este que chegou já veio um pouco deteriorado, mas o importante é que as sementes parecem em bom estado.
Este fruto é da zona de planaltos e aguenta geadas ligeiras, daí pensar que se vai adaptar bem por cá.
Em África é utilizado como alimento, medicinal, e a madeira na carpintaria, as sementes é que não devem ser ingeridas.
Uma curiosidade deste fruto é o facto de ele ser utilizado para a construção do instrumento musical chamado marimba.
Outra referência a este fruto, é feita na canção de Fausto, musicando um poema de Viriato da Cruz, O Namoro

...Sua pele macia era sumaúma
sua pele macia, da cor do jambo, cheirando a rosas
sua pele macia guardava doçuras do corpo rijo
tão rijo e tão doce como o maboque...

Nota: Maboque é o nome dado ao fruto em Angola, em Moçambique chama-se massala

sábado, 1 de outubro de 2005

Ventos

Embora considere esta lista muito completa, penso que localmente ainda existem muitos outros nomes para os ventos, se alguém souber do nome de algum diga

A origem dos ventos

...Zeus, deus dos céus e pai dos deuses, deu a superintendência dos ventos a Eólo, que vivia na ilha flutuante de Eólia juntamente com Aurora, sua mulher, e seus 6 filhos e 6 filhas casados entre si.
Quando Ulisses saiu da ilha, foi-lhe dado um odre que continha os "os ventos uivantes" podendo ser libertados consoante as necessidades. O sopro de Zéfiro foi então enviado para ajudar os barcos a afastarem-se e prosseguirem a sua odisseia. No entanto, a curiosidade e a ganância dos seus homens fez com que estes abrissem o odre, pensando conter riquezas, libertando assim os ventos e desencadeando uma tempestade na qual se afundariam, salvando-se apenas Ulisses...

E assim nasceram vários ventos

Alísios ou Alíseos - ventos regulares que durante o ano sopram regularmente de NE no hemisfério Norte e do SE no do Sul. A partir dos 30º vão diminuindo de intensidade em direcção ao Equador até se extinguirem formando aí a zona de calmarias equatoriais.

Aracati - nome que dão no Ceará a um vento forte que no verão sopra de nordeste.

Aura - brisa ligeira ou vento muito brando.

Austro - o vento do Sul.

Bora - vento seco e frio do NE que sopra na parte Norte do Adriático, sobretudo durante o Inverno.

Bóreas - o vento do Norte. (irmão de Notos e Zéfiro na mit. grega)

Brisa - nome que os pescadores do bacalhau davam ao vento fresco. Na costa sul da Madeira são os ventos do quadrante E ou de E a NE.

Camacheiro - vento que sopra em rajadas fortes de N ou NE na Madeira.

Carpinteiro da Costa - temível vento sueste que sopra na costa nordeste do Brasil

Chamsin - aportuguesamento de khamsin com que os árabes designam os ventos, carregados de areia finíssima, que sopram dos desertos nas próximidades do Mar Vermelho.

Ciclone - grandes massas de ar animadas de grande velocidade de rotação formadas nas zonas tropicais. No centro do ciclone existe uma zona de calmas. O sentido de rotação no hemisfério Norte é directo sendo retrógrado no hemisfério Sul. A sua trajectória é parabólica e na direcção de latitudes mais elevadas, pelo que nunca salta de hemisfério.

Furacão - vento repentino e impetuoso de origem ciclónica.

Garbino - vento que sopra de Sudoeste.

Garroa - nome dado ao vento fresco de Sudoeste na região de Setúbal. Os pescadores da região de Moçâmedes aplicam também o mesmo nome ao vento rijo também de Sudoeste.

Gravana - Vento fresco que sopra do sul ao sudoeste no Golfo da Guiné.

Greco ou Gregal - vento que sopra da Grécia ou do Nordeste.

Harmatão - vento muito quente e seco, o qual, de Dezembro a Fevereiro sopra do NE da costa ocidental da África.

Lariço - vento bonançoso que sopra na baía de Cascais.

Lestada - vento que sopra forte de Leste.

Levante - vento quente e seco que sopra de Leste no Mediterrâneo e se faz sentir no Algarve principalmente durante o Verão.

Maestro - vento do quadrante de Noroeste.

Mareiro - vento que sopra do mar para terra.

Mata-vacas - nome que nos Açores dão ao vento Nordeste.

Minuano - vento oeste frio do Sul do Brasil, que costuma soprar com violência depois da chuva, no inverno. Vem dos Andes e passa pela antiga zona dos índios Minuanos, de quem tomou o nome.

Mistral - vento seco e frio dos quadrantes do Norte que sopra no Sul de França. Faz-se sentir entre esta região, as Baleares e a Córsega.

Monção - vento periódico soprando por largo período de tempo nas regiões do Oceano Índico. A Monção de Verão sopra de SW de Abril a Outubro acompanhada de grandes chuvadas, sendo também conhecida por estação das chuvas. A mudança da direcção do vento, que passa a NE de Outubro a Abril, anuncia a Monção de Inverno.

Naulu - vento que sopra contrário ao vento Ukiukiu na ilha de Maui no Havai

Nortada - vento forte do Norte ou de direccções próximas, que sopra na costa portuguesa especialmente durante o Verão.

Notos - vento Sul. (irmão de Bóreas e Zéfiro na mit. grega).

Pampeiro - vento sudoeste violento que sopra na costa Brasileira e Argentina, acompanhado de chuvas, cuja duração pode ir de 6 a 26 horas.

Ponente ou Poente - vento de oeste.

Ponteiro - vento que sopra de proa.

Puelche - Ventos que atravessam a Patagónia argentina vindos do Atlântico que ao chegarem ao litoral chileno chocam com os ventos do Pacífico viram para Norte com rajadas geladas.

Rabanada - Rajada ou Pé de Vento.

Rafa - Rajada de Vento.

Rajada - vento que de quando em quando sopra com maior intensidade.

Refrega, Refega ou Rafega - vento forte de fraca duração, menos forte que a rajada.

Repiquete - salto de vento para outro rumo.

Salvante - vento favorável.

Samatra - temporal violento e normalmente de fraca duração que se levanta no estreito de Malaca vindo de Samatra.

Setentrião - vento que sopra do Norte.

Simum - vento ciclónico do Sahara que se faz sentir na parte oriental do Mediterrâneo, vindo de Sul a Sudoeste.

Siroco - vento quente, asfixiante e empoeirado de SE que sopra na região do Mediterrâneo, especialmente na Itália, Sicília, Malta e Grécia. Vindo do Norte de África, com origem no deserto do Sara, aparece durante a Primavera e Verão.

Suão ou Soão - vento quente e calmoso soprando entre leste e sueste.

Suestada - vento forte de Sudeste. Nome que dão a um temporal, geralmente pouco duradouro, na Terra-Nova.

Terral - vento que sopra de terra para o mar durante a noite até pouco depois do nascer do Sol.

Tornado - Tempestade ciclónica não excedendo em geral uma hora. Forma-se com mais frequência de meados de Maio a meados de Novembro na costa ocidental de África, entre o Trópico de Câncer e o Equador.

Tramontana - vento que sopra de Norte.

Travessão - vento que sopra de través.

Tufão - tempestade ciclónica no Mar da China, com grandes mares levantados por ventos de enorme violência. Formados geralmente na região das Carolinas e Marianas.

Ukiukiu - vento alíseo de Nordeste que sopra no Havai na ilha de Maui

Vara - Temporal de duração curta.

Vara do Coromandel - Vento fresco do quadrante leste que sopra no equinócio do Outouno na costa do Coromandel na Índia.

Vendaval - vento do Sul. Também um vento forte com pesados aguaceiros e mar alteroso.

"Vento Porão" - também conhecido por "Vento Auxiliar". A direcção e intensidade deste "vento" depende da direcção imprimida pelo leme à embarcação e da potência do motor instalado no porão...

Viração - Vento fraco que sopra do mar para terra depois do meio-dia até ao pôr-do-sol até cerca de 20 milhas da costa.

Xarouco - vento terral.

Zéfiro ou Zephyrus - vento suave e fresco de Oeste. (irmão de Bóreas e Notos na mit. grega)


Fonte ANC

segunda-feira, 19 de setembro de 2005

Em Cabo Verde

Extractos de uma reportagem do Diário de Notícias de hoje

...Há sempre festa quando o milho tem nove folhas...

...Choveu ontem e a terra está molhada. É o quanto basta para o sorriso desdentado de Gustinho se rasgar de uma ponta à outra...

...Na manhã seguinte, vão levantar-se bem cedo. Antes do Sol acordar já estarão nas montanhas a vigiar os campos de cultivo. Gustinho Trindade explica que irá contar, mais uma vez, quantas folhas rebentaram entretanto no milho e no feijão. Não é que ele não saiba de cor tudo o que acontece na sua plantação. A contagem foi feita ontem, hoje e repete-se todos os dias. "Nem sei por que é que faço sempre isso. Se calhar, é porque custa a acreditar que está tudo a crescer tão bem e tão bonito", explica. Este ano, a terra de Cabo Verde foi generosa...

...Mas, depois, as palavras do Presidente cabo-verdiano, Pedro Pires, começam a fazer algum sentido "O melhor recurso natural desta terra são os seus homens”...


Um testemunho vindo do terceiro mundo, ou melhor de um país que deixou de pertencer ao terceiro mundo e já está no grupo dos países de “desenvolvimento médio”, só que continuamos a viver num Mundo onde o que é importante é onde se nasce. Mas a massa de que somos feitos é a mesma (diga-se, herança genética, potencialidade intelectual, habilitações técnicas, capacidade de ser feliz e sorrir).

Muitas perguntas ficam no ar...

terça-feira, 13 de setembro de 2005

Goiaba


Goiaba.jpg 
 
 A goiabeira, Psidium guajava L., pertence à família Myrtaceae.
 É um arbusto ou árvore de pequeno porte que pode atingir 3 a 6 m de altura, tronco tortuoso, folhas opostas que se desprendem do ramo quando amadurecem.
As flores são brancas, hermafroditas, isoladas ou em grupos de 2 ou 3, situando-se nas axílas das folhas e nas brotações de ramos maduros.
A fecundação provém de polinização cruzada (abelha/Apis principal polinizador).
O fruto é uma baga com tamanho, forma e coloração de polpa variada, bastante rico em vitamina C (Vit. C -200-300 mg/por fruto), a UNESCO, chegou a sugerir a plantação de goiabeiras junto de populações subdesenvolvidas com carência de vitamina C para superar o problema, trata-se de uma planta rústica e que se dá bem em climas subtropicais, tem um senão em climas tropicais húmidos, pode-se tornar uma praga como acontence no Hawai onde foi introduzida sendo hoje uma infestante.
Tem um teor elevado de pectina e ácido cítrico, sendo, por essa razão muito usada no fabrico de geleias e marmeladas.
Esta fotografia é duma goiabeira na zona de Lisboa e promete, mas como dizia o meu avô, só podes dizer que a colheita do trigo é boa quando estiveres a comer o pão.

sábado, 27 de agosto de 2005

quarta-feira, 27 de julho de 2005

Bachelard


“la nature, on commence par l’aimer sans la connaître, sans la
bien voir, en réalisant dans les choses un amour qui se fonde ailleurs.
Ensuite, on la cherche en détail parce qu’on l’aime en gros, sans savoir
pourquoi.”

Bachelard, 1983, p. 155

quinta-feira, 21 de julho de 2005

Camarinhas


Corema.jpg 
foto http://www.horta.uac.pt 

A camarinha (Corema album) ou camarinheira é um arbusto da família das Empetraceae, é endémico em Portugal.
Frequente em sistemas dunares ou em matas baixas dos pinheirais. Produz um fruto comestível e a sua rama liberta um cheiro semelhante ao mel.
É outro arbusto que poderia ser adaptado como ornamental, mas muito pouco visto sem ser no seu estado natural.
Existe uma cantiga popular antiga que lhe faz honra, e fiquei com interesse em saber se o Senhor da Pedra existe, e se existe se ainda existem por lá camarinhas. 

Fostes ao Senhor da Pedra
Minha rica Mariquinhas...
Nem por isso me trouxestes
Um ramo de camarinhas.
Hei-de ir ao Senhor da Pedra
Para colher as camarinhas...
Mas, meu amor, é de lá
Já mas tinha apanhadinhas.
Fui ao mar às camarinhas
E cacei um camarão...
(coro)
Ai sim, camarinha, ai sim!
Ai sim, camarinha, ai não!
Ai sim, camarinha, ai sim!
Camarinha, ai sim!
Camarinha, ai não

quinta-feira, 14 de julho de 2005

A Transplatação de um Dragoeiro de 3m de altura

Mudei de casa e resolvi levar o dragoeiro comigo
O Dragoeiro, Dracaena Draco (do grego drakaina = dragão e do latim draco = dragão) originária da Macronésia (Madeira, Canárias e Cabo Verde), pertence à família das (agavaceae) e é uma das árvores que 
está na Red List da IUCN. Draco_1.jpg Como estou a mudar de casa e tinha um dragoeiro que possivelmente iria ser arrancado por futuros donos, principalmente por estar num local não próprio, decidi mudá-lo, tinha 3,90m e 20 anos, foi um dia de trabalho e sempre a pensar se iria resultar. Coloco agora o post porque já passou um mês e parece e está bem, mesmo depois desta onda de calor. A ideia de que poderia resultar é devido ao facto de o dragoeiro ter reservas alimentares no seu tronco e estas permitirem a adaptação e a reconstituição das raízes. 
Draco_2.jpg 
Conhecida em Inglês por dragon tree, este nome vem do mito grego, o décimo trabalho de Hércules, as maçãs de Hespérides. Para as puder colher, Atlas disse que Hércules teria que vencer o dragão (penso que existe outra versão em que é o próprio Atlas que o mata) e tendo vencido, o sangue do dragão escorreu para a terra e nasceu esta árvore. A seiva da árvore conhecida na Farmacopeia europeia como sangue de dragão, ainda hoje é investigada A sua resina, avermelhada, tem aplicações curativas, ou tinha, motivo por que o sangue de drago e o dragoeiro ainda hoje vogam numa nuvem de magia e feitiço.

terça-feira, 12 de julho de 2005

O fruto do imbondeiro

O fruto do imbondeiro

imbondeiro_1.jpg


Finalmente parti o fruto, as sementes encontram-se no meio daquela massa branca. Se alguém quiser experimentar semear um imbondeiro, nem que seja para bonsai , diga, que eu envio sementes.

domingo, 10 de julho de 2005

Porque voam os patos em V

¿Por qué los patos vuelan en V?

El primero que levanta vuelo abre camino al segundo, que despeja el aire al tercero, y la energía del tercero alza al cuarto, que ayuda al quinto, y el impulso del quinto empuja al sexto, y así, prestándose fuerza en el vuelo compartido, van los muchos patos subiendo y navegando, juntos, en el alto cielo.

Cuando se cansa el pato que hace punta, baja a la cola de la bandada y deja su lugar a otro pato.

Todos se van turnando, atrás y adelante, y ninguno se cree superpato por volar adelante, ni subpato por marchar atrás. Y cuando algún pato, exhausto, se queda en el camino, dos patos se salen del grupo y lo acompañan y esperan, hasta que se recupera o cae.

Juan Díaz Bordenave no es patólogo, pero en su larga vida ha visto mucho vuelo. El sigue creyendo, contra toda evidencia, que los patos unidos jamás serán vencidos.»

Fernando Eimcke

sexta-feira, 8 de julho de 2005

Sabedoria popular ou não


"Águas passadas não moem moinhos"


Para mim, as águas passadas também podem moer moinhos, basta atender ao ciclo da água.

quinta-feira, 16 de junho de 2005

Albano Martins


Pequenas coisas

Falar do trigo e não dizer
o joio. Percorrer
em voo raso os campos
sem pousar
os pés no chão. Abrir
um fruto e sentir
no ar o cheiro
a alfazema. Pequenas coisas,
dirás, que nada
significam perante
esta outra, maior: dizer
o indizível. Ou esta:
entrar sem bússola
na floresta e não perder
o rumo. Ou essa outra, maior
que todas e cujo
nome por precaução
omites. Que é preciso,
às vezes,
não acordar o silêncio.

quarta-feira, 15 de junho de 2005

A concha




A minha casa é concha. Como os bichos
Segreguei-a de mim com paciência:
Fechada de marés, a sonhos e a lixos,
O horto e os muros só areia e ausência.

Minha casa sou eu e os meus caprichos.
O orgulho carregado de inocência
Se às vezes dá uma varanda, vence-a
O sal que os santos esboroou nos nichos.

E telhadosa de vidro, e escadarias
Frágeis, cobertas de hera, oh bronze falso!
Lareira aberta pelo vento, as salas frias.

A minha casa... Mas é outra a história:
Sou eu ao vento e à chuva, aqui descalço,
Sentado numa pedra de memória.

Vitorino Nemésio

terça-feira, 14 de junho de 2005

Eugénio de Andrade

Quase Nada

O amor
é uma ave a tremer
nas mãos de uma criança.
Serve-se de palavras
por ignorar
que as manhãs mais limpas
não têm voz.

sexta-feira, 27 de maio de 2005

Aquilino Ribeiro


A bolota taluda ficara ali muito quieta, muito bem refastelada em virtude do próprio peso, enterrada que nem pelouro de batalha depois de passarem carros e carretas. Que fazer senão deitar-se a dormir?! Dormiu uma hora ou uma vida inteira, quem sabe?! Um laparoto veio lá de cascos de rolha, rapou a terra, fez um toural, aliviou-se, e ela ficou por baixo, sufocada sem poder respirar, em plena escuridão. Estava no fim do fim? Um belisco, e do seu flanco saiu como uma flecha. Era de luz ou de vida? Era uma fonte ou antes um cântico de ave, de água corrente, de vagem a estalar com o sol (... )? Era tudo isto, encarnado no fogo incomburente que lhe lavrava no flanco, verbo que acabou por irradiar do próprio mistério do seu ser.


Do pinhão, que um pé-de-vento arrancou da pinha-mãe, e da bolota, que a ave deixou cair no solo, repetido o acto mil vezes, gerou-se a floresta.


A Casa Grande de Romarigães (excerto)


terça-feira, 24 de maio de 2005

O imbondeiro


Ao passar na rua do Arsenal, naquelas mercearias que têm o que a gente imagina e o que não imagina deparei-me com um fruto à venda que me fez literalmente parar: Era o fruto do imbondeiro (também se diz embondeiro, ou baobá, mas prefiro esta grafia). Ando há anos a pedir sementes desta árvore e agora tinha ali um fruto com 1,850 kg à minha disposição. Ganhei coragem de o tentar semear cá quando o vi ser plantado no jardim Garcia da Orta nos terrenos da expo. Ainda não o cortei, mas num futuro post ponho a fotografia. Há árvores que marcam e esta foi uma delas, começando no PRINCIPEZINHO de Antoine Saint-Exupéry, que me fez entre coisas passar a adolescência à procura da minha raposa. MOCAMBIQUE - embondeiro 2_resize.jpg E nos cinco anos que estive em África, foi a árvore que mais me impressionou. O imbomdeiro, Adansonia digitata, L., da família das bombaceae, a mesma das ceibas. Esta planta tem dois tipos de folhas conforme a idade. Justificação para que no princípio do século passado fosse uma árvore considerada em vias de extinção e árvore fóssil por não se conhecer este facto e não se verem exemplares jovens com as folhas do exemplar adulto. Falta de comunicação também um pouco aqui. Em África ouvi um nativo dizer, que o imbomdeiro só dava fruto quando mudava de roupa. Pelas populações locais esta árvore é uma árvore protegida e muitas vezes se lhe ligam sentimentos religiosos. Nalguns locais é tido como um intermediário entre Deus e os homens. E percebe-se, pelo elevado número de utilizações que as populações locais fazem dele. As crateras que se abrem no interior do tronco, para além de poderem armazenar água, servem muitas vezes de celeiros de cereais e até de sepulturas As raízes algumas vezes são desenterradas para se tirar parte delas e produzir um corante vermelho, que se usa para corar olaria, madeiras e tecidos. Do entrecasco extraem-se fibras grosseiras que servem para a confecção de cordas e tecidos grosseiros. A polpa dos frutos seca dá origem a uma farinha de sabor agradável. A farinha é rica em vitaminas C e do complexo B, de enorme valor nutricional e muito procurada como remédio. Foi considerada um dos remédios mais eficazes contra a disenteria e passou a ser conhecida na farmacopeia como Terra de Lemnos. O ácido da polpa é utilizado como coagulante da borracha. Consomem-se as sementes depois de torradas. As folhas são usadas em culinária depois de cozidas em sopas e esparregados. Notas técnicas de :Fruticultura tropical – J. Mendes Ferrão, Ed. IICT

Famílias:

Sabedoria popular


Vou começar a fazer posts com esta entrada para relatar testemunhos, antigos e novos que vou ouvindo, que têm um sentido profundo de observação mas, que coloco reservas, certezas ou interrogações na sua veracidade. Esta primeira é uma interrogação.
Veio a propósito de um melro ter feito um ninho no meu damasqueiro. Um senhor já de idade e que se cruzou comigo deu origem a uma conversa interessante, de que retiro um seu postulado

O melro só gala a melra em águas correntes

segunda-feira, 23 de maio de 2005

A cebola


Cebola,
luminosa redoma
pétala a pétala
se formou tua formosura,
escamas de cristal te acrescentaram
e no segredo da terra escura
se arredondou teu ventre de orvalho.

Pablo Neruda

sexta-feira, 20 de maio de 2005

Como parece estar na moda as pétalas comestíveis, aqui estão para mim as pétalas mais saborosas, as da feijoa (Acca sellowiana syn. Feijoa sellowiana, Berg), família das mirtaceas, também conhecida por goiaba serrana ou goiaba abacaxi. Deve o nome a um naturalista, João da Silva Feijó (1760-1824) que a descobriu no Sul do Brasil. Segundo nos informa Pio Correia, a goiaba serrana é uma espécie duplamente útil ao homem. Em primeiro lugar, diz o autor, referindo-se à planta como um todo, "pela elegância do porte, persistência da vistosa folhagem e beleza das flores". De facto, quem vê a árvore da feijoa em floração, na primavera, não pode deixar de admirar as flores de pétalas brancas por cima e arroxeadas pelo lado interno, contrastando com os estames de cor púrpura. Tais pétalas carnudas, além de belas, são comestíveis. Para Pio Correia, as pétalas da flor de feijoa - gulodice de crianças - possuem um agradável suco adocicado, divertido de se mastigar. As folhas da feijoeira são também muito bonitas e ornamentais: pequenas e estreitas, são verde-escuras na parte superior e prateadas na parte inferior. A segunda grande utilidade dessa planta, para Pio Correia, residiria na "excelência de seus frutos, cuja polpa espessa, aquosa, é muito aromática, abundante e saborosa". Seu sabor, próximo do sabor da goiaba comum, é considerado por alguns como uma mistura dos sabores da banana, do morango e, especialmente, do abacaxi, explicando-se, por esse motivo, outro de seus nomes vulgares: goiaba abacaxi. Esta é uma planta que consigo que floresça mas que acaba por nunca frutificar, continuo sem perceber o processo de polinização. As referências que li, falam que são os pássaros que as comem que polinizam a planta, e os pássaros portugueses ainda não descobriram o sabor das pétalas. Outra referência diz ser necessário duas espécies diferentes para existir a polinização, o que estou a tentar. (copyright da imagem: http://www.boga.ruhr-uni-bochum.de)

quinta-feira, 19 de maio de 2005

...


Quando se encara a ética católica a partir do dever, da norma, do preceito, ela fica sem graça nenhuma e desgraça a natureza humana feita para o abraço do céu e da terra.

Frei Bento Domingues

quarta-feira, 11 de maio de 2005

Conteira

Conteira
azadiractina.jpg


Como já foi relatado por uma aficionada a conteira  (Melia azedarach) serve para fazer um insecticida caseiro.

Os italianos já vendem o insecticida biológico feito somente do extracto de plantas duma espécie muito próxima Azadirachta indica A.Juss, com o principio activo presente também na conteira, a azadiractina.

terça-feira, 10 de maio de 2005

Almada Negreiros


As palavras necessárias para salvar o mundo já foram
todas proferidas, só falta salvá-lo.

sexta-feira, 6 de maio de 2005

Tomate arbóreo ou Tomate maracujá

Esta planta, Cyphomandra betacea Sundt., da família das Solanaceae, a mesma do vulgar tomate, possui porte arbustivo de 2-3 m de altura e seus frutos são comestíveis. É nativa da América do Sul, provavelmente do Peru. É uma planta tropical, mas de altitude, e adapta-se a clima subtropical; mas só floresce onde as noites são frias. Às vezes é queimada por geadas mas recupera. O consumo pode ser ao natural, mas é também usado em geleias, temperos e outros produtos. Ainda não acertei foi na quantidade certa para utilizá-la como substituto do tomate.

quarta-feira, 4 de maio de 2005

Andorinhas 2

Andorinhas 2
andori.jpg


Chegada da Andorinha-dos-beirais (Delichon urbica) relatadas nos blogs

Alentejo - 11 de Janeiro
Lisboa Meados de Março
Epicentro 17 de Abril
S. Domingos de Rana 20 de Abril
Porto 27 de Abril

Embora a datas não tenham um rigor científico, servem de para se ter alguma referência

sexta-feira, 29 de abril de 2005

Pablo Neruda



Se não puderes ser um pinheiro, no topo da colina,
sê um arbusto no vale, mas sê
o melhor arbusto à margem do regato.
Sê um ramo, se não puderes ser uma árvore.
Se não puderes ser um ramo, sê um pouco de relva
e dá alegria a algum caminho.

Se não puderes ser uma estrada,
sê apenas uma senda,
se não puderes ser o Sol, sê uma estrela.
Não é pelo tamanho que terás êxito ou fracasso...
mas sê o melhor no que quer que sejas.

sexta-feira, 15 de abril de 2005

As Amoras

O meu país sabe as amoras bravas
no verão.
Ninguém ignora que não é grande,
nem inteligente, nem elegante o meu país,
mas tem esta voz doce
de quem acorda cedo para cantar nas silvas.
Raramente falei do meu país, talvez
nem goste dele, mas quando um amigo
me traz amoras bravas
os seus muros parecem-me brancos,
reparo que também no meu país o céu é azul.

Eugénio de Andrade ("O Outro Nome da Terra")

terça-feira, 22 de março de 2005

Andorinhas

Já começou oficialmente a Primavera, ainda não vi nenhuma andorinha, e na minha zona elas costumam chegar bem mais cedo. Já as tenho visto até em Fevereiro.

Alguém já as viu?

sábado, 19 de março de 2005

Mau tempo

Passei o dia a ouvir falar do bom tempo que está. Ironia? Hiprocrisia? Desconhecimento ?

Viva a cidade, os alimentos vêm todos do supermercado!

Hoje, ontem, este Inverno tem estado mau tempo.Muito mau tempo.

sexta-feira, 18 de março de 2005

"A Natureza está estranha..."


e não sei porquê."

Joaquim Correia, DN, 18/03/05



quarta-feira, 16 de março de 2005

Árvores como monumento

“…As árvores e os maciços arbóreos classificados de interesse público constituem um património de elevadíssimo valor ecológico, paisagístico, cultural e histórico, em grande medida desconhecida da população portuguesa.
Quantos portugueses sabem que no seu país se encontra a árvore mais alta de toda a Europa? Quantos tavirenses conhecem a vetusta oliveira de Pedras de El Rei, cuja idade foi medida em mais de 2000 anos, sendo portanto anterior à era cristã? Imaginam os lisboetas que se cruzam diariamente com dezenas de árvores notáveis que testemunharam acontecimentos decisivos da história de Portugal?
No entanto, já desde o século XIX que silvicultores e naturalistas apelam à protecção de “arvores colossais”, que representariam o remanescente da antiga cobertura indígena e anteviam o prodigioso desenvolvimento de outras espécies exóticas recém introduzidas, cujo rápido crescimento certamente as levaria a suplantar em dimensão o arvoredo autóctone…”
bela sombra.jpg
Bela-sombra (Phytolacca dioica L.), árvore jovem de dimensões já excepcionais, no bairro da Fábrica de Porcelanas da Vista Alegre (Ílhavo)


carvalho alvarinho.jpg
Carvalho-alvarinho (Quercus robur L.), do Jardim Municipal de Paços de Ferreira.

pinheiro serpente.jpg
Pinheiro-bravo (Pinus pinaster Ait.), da Mata Nacional de Leiria (São Pedro de Moel, Marinha Grande). Estas árvores, retorcidas pelo efeito dos ventos dominantes, são vulgarmente designadas por “pinheiros-serpente”.

Eucalyptus diversicolor.jpg
Eucalyptus diversicolor Müller (karri), na Mata Nacional de Vale de Canas (Coimbra), plantado no final do séc. XIX. Com 75m de altura e mais de 30 metros de tronco limpo de ramos, é a mais alta árvore da Europa.

João Rocha Pinho –Brochura da Direcção Geral das Florestas

terça-feira, 8 de março de 2005

O elogio da Natureza (sic)



A natureza, segundo David W.Griffith( cineasta, 1875-1948), é a que nasce, não de qualquer evidência automática, mas de uma verdade que tem tanto de transparente como de insondável – a natureza é, em Griffith, a manifestação do humano como mistério sempre em aberto.

João Lopes, DN, 5/3/05

terça-feira, 1 de março de 2005

Miguel Torga


As oliveiras honestas humildes, pardas de monotonia; os pinheiros boémios peraltas, persistentes; as cepas rasteiras, negras , choronas. […] Já o xisto acabara, e nascera um granito redondo, tendido como broas de centeio. Giestas negras agarradas àquela secura, aquela dureza, possessas de patriotismo.

Miguel Torga "A criação do Mundo"; (dia 3)

domingo, 27 de fevereiro de 2005

Sapote branco

Nome comum : Sapote branco
Nome cientifico: Casimiroa edulis Llave & Lex)
Família: Rutaceae
Origem: Andes, até 2000m de altitude
Utilização: Frutos comestíveis, as sementes são tóxicas

sábado, 26 de fevereiro de 2005

Dêem asas ao sonho e vozes às gentes



Dêem asas ao sonho e voz às gentes.
Repovoe-se a vila abandonada
e emprenhe-se a terra de sementes.
Plantem-se sebes de urzes e de jasmim
dividindo imaginários lamaçais,
faça-se tudo o possível e mesmo assim
se necessário faça-se mais,
para dar água ao deserto e sol à eira
mobilizando a esperança por decreto
se não houver então outra maneira.

Invente-se a forma mais expedita
de deixar escrita a fogo a tradição
de como criar gado e fazer queijo,
retirar o mel e fazer vinho,
jogar o chinquilho e cardar lã,
bordar o lenço a ouro e tecer linho,
de guardar o cheiro intenso da maçã.

Se preciso for, chamem-se os homens
que vivem p'ra fazer viver o sonho,
se preciso for gritar então que eu grite
até que a voz me falhe e eu fique rouco,
se preciso for voar, que cresçam asas,
e se loucura é isto que seja louco.

 Luís Filipe Duarte (do livro Por dez reis de mel coado, 2000)

terça-feira, 15 de fevereiro de 2005

Artemisia

Esta planta, a artemisia annua, pode-se encontrar pelos cinco continentes, só que dá origem a mais uma partida da Natureza. O composto eficaz no combate à malária, que se retira desta planta, a artimisina, só é sintetizado numa zona da China, em outros locais de teste a planta desenvolve-se bem mas não produz este princípio activo.
Há mais de mil anos que compostos extraídos das folhas da planta "Artemisia annua" são usados na medicina tradicional chinesa para curas diversas, desde doenças da pele à malária. Foi com base nestes conhecimentos que em 1960 o Exército chinês reuniu cientistas para testarem e encontrarem, entre 200 substâncias naturais, a melhor para curar a malária. E o investigador Tu Youyou reencontrou em 1972, nas folhas da "Artemisia annua", o único fármaco eficaz contra a malária. Durante mais de dez anos, o Governo comunista chinês escondeu a artemisinina do Ocidente, até que um artigo científico chinês a revelou. Já vários derivados da artemisinina foram usados, mas a produção é cara e difícil, apesar de, em combinações terapêuticas, ser 90 por cento eficaz. Há cerca de dez anos a Organização Mundial de Saúde recomendou que as terapias usadas nos países mais flagelados pela malária incluíssem a artemisinina. Mas o seu custo continua a ser um entrave, sobretudo porque a malária é uma doença de países pobres. As atenções concentram-se agora na produção de um composto artificial, de baixo custo, que copie a estratégia da artemisinina. Os passos iniciais já foram dados. O primeiro composto sintético barato, o OZ-277, foi anunciado por uma equipa da Universidade do Nebrasca, nos EUA, num artigo na revista "Nature" no ano passado.