quinta-feira, 28 de maio de 2015

Os sobreiros sonham




Os sobreiros sonham


 
Os sobreiros sonham
sonhos desvairados,
que só os pastores
e as pedras suspeitam.








 


Sonham que são livres
e vão pelo mundo,
com raízes de água
 e cabelos soltos.









No céu par lavrar,
as nuvens são cardos
e o sol um milhafre
que esvazia os olhos.








 


Dos sonhos só resta
a angústia que os ousa.
A angústia é concreta.
Os sonhos são sombras.













Seguros à terra
com garras de bronze,
os sobreiros sonham
impossíveis rumos.








in Obra Poética, vol. III  -  de Armindo Rodrigues (1904-1993)

(Fotografias de sobreiros entre Alvito e Viana - Alentejo - 2010)

quinta-feira, 14 de maio de 2015

Heidegger e um hipopótamo



Heidegger e um hipopótamo chegam às portas do Paraíso e São Pedro diz:
– Escutem, hoje só temos espaço para mais um. Por isso, aquele que me der a melhor resposta à pergunta “qual é o sentido da vida?” entra.
Heidegger responde:
– Pensar explicitamente no Ser em si requer o menosprezo pelo Ser, na medida em que está apenas fundamentado e interpretado em termos de seres e para seres como seu fundamento, como em toda a metafísica.
E antes que o hipopótamo pudesse grunhir, São Pedro volta-se para ele e diz:
- Hoje é o teu dia de sorte, hipopótamo!

Artur Pereira jornal i, 14/5/2015