quarta-feira, 31 de janeiro de 2007

Um modo de plantar mangas

Quando comecei a tentar reproduzir mangas, Mangifera indica L., a partir de sementes, tive muitos fracassos.
Nas primeiras tentativas. enterrava o caroço e esperarava, ou seja só uma vez a planta se desenvolveu e acabou por morrer, nunca se desenvolveu minimamente. Uma das razões para isso acontecer, era devido ao facto de deixar secar o caroço antes de semear.
No nosso clima, esse processo é normal, as plantas produzem sementes para serem semeadas na Primavera seguinte. As sementes desenvolvem-se em tempo seco, Verão, e esperam pela época em que vai voltar a aquecer e haver disponibilidade de água.
Algumas plantas do clima tropical, desenvolveram outra táctica, no período quente em que elas amadurecem, existe também grandes quantidades de água disponíveis, a que se segue um período de seca, e aproveitam a altura do desenvolvimento da semente para germinarem logo após a sua maturação. Existe portanto um período de viabilidade da semente muito curto. No caso da manga é cerca de 1 a 2 semanas, conforme as referências, pode-se aumentar esse período mantendo a semente húmida. Basicamente o caroço não pode secar.
Comi uma manga particularmente doce, comprada num supermercado, normalmente apanho desgostos com as mangas, muitas vezes penso que é por serem apanhadas demasiado verdes e sofrerem com o transporte em câmaras frigoríficas. Resolvi semeá-la, embora a altura não seja das melhores. Segue-se o processo que utilizo hoje com algum sucesso.

Primeiro "chupa-se" o caroço muito bem, numa boa manga compensa o desagrado das fibras entre os dentes. Normalmente uso a tesoura de podar na operação seguinte, a casca do caroço é bastante dura.

Deve-se cortar o caroço junto do seu limite para não destruir a semente no seu interior, e deve-se cortar no canto oposto ao pé do fruto.

Junto ao pé do fruto, desenvolve-se a micrópila, por onde se vai sair o embrião, podendo a semente já ter o embrião despontado ( espero não estar enganado nos nomes).

A casca da semente deve ser retirada, porque se desenvolvem nela muitos fungos, e aí também podem começar outros problemas. A semente ideal é uma semente esbranquiçada sem partes escuras, que significam a degradação do endonsperma (parte nutritiva de que o embrião se vai alimentar). Mas normalmente já existem zonas secas como é este caso. Importante é manter-se a tonalidade branca junto aquele gomo a que chamei micrópila.

O passo seguinte, a maioria já aprendeu na escola, com feijões, a semente de manga é só um feijão maior, embebe-se um algodão em água e cobre-se a semente com o algodão humedecido.


quinta-feira, 25 de janeiro de 2007

Banana (2)

Já tive muitas desilusões até chegar à fotografia do post anterior.
A primeira foi uma doença que me dava nos cachos iniciais em que as bananas ficavam com metade polpa, metade cortiça, parece que se chama "charuto da banana", e acontecia mais numa variedade chamada banana pão. Tive que limpar o terreno dessa bananeira e queimar raízes para ver se o fungo ou bactéria que a provocava desaparecia.

A melhor solução foi ter optado pela banana da Madeira, mas nos primeiros pés, quando aparecia a flor com o cacho o peso era tanto que o cacho caía e partia a planta antes de estar minimamente formado. Ou seja quando aparece o cacho é preciso arranjar um apoio para segurar o cacho, senão com o peso parte a bananeira.

Outro problema, Invernos em que apareciam geadas muito cedo e as bananeiras ficavam completamente queimadas, sem os cachos atingirem a maturação necessária.

Um processo para ajudar o desenvolvimento da bananeira é quando o tempo começa a aquecer, se sofreu muito com o Inverno, e não se desenvolve bem, deve-se fazer o que em África se designa por “capar” a bananeira, que consiste em cortá-la a um palmo do chão para começar a desenvolver com força, já fiz a experiência com duas, uma “capei-a” e a irmã ao lado não, e a que foi capada desenvolveu-se muito mais depressa.

quarta-feira, 24 de janeiro de 2007

Banana



Um cacho de bananas, apanhado esta semana, não viesse aí a onda de frio, nessa altura ou se apanha o cacho ou tenta-se proteger com um plástico, mas este já está bem formado e já apareceu uma banana a ficar amarela, altura ideal para a apanha. Este deve ter cerca de 20Kg, o meu recorde com este tipo de bananeira foi 35Kg.
A sistemática das bananeiras pode dar a origem a várias confusões, assim como a uma incerteza na classificação. A classificação que vou dar a esta bananeira é baseada no facto de ser filha duma das bananeiras da ilha da Madeira, ou Bananeira Anã e aí ser consensual a classificação.

Os nomes científicos que durante muito tempo serviram de referência, Musa nana, Musa paradisíaca, Musa cavendish, Musa sapientum, etc., tendem a deixar de ser usados, porque o que existem hoje são cultivares e clones, os cultivares devem ser classificadas em função da sua ploidia (número de cromossomas presentes na célula) e referenciados em função da contribuição das espécies selvagens (classificação de Simmonds 1996) que lhes deram origem, definindo-se dois genomas dominantes
Genoma A da Musa acuminata Colla
Genoma B da Musa balbisiana Colla

Assim a Bananeira Anã, seria uma Musa, Dwarf cavendish, do grupo AAA (3n=33), subgrupo cavendish.

Haveria muito que contar acerca da bananeira e da banana, hoje vou ficar por duas referências bíblicas.
Há quem diga que o enorme cacho que os israelitas foram buscar à planície e que só dois homens o conseguiram carregar, como é citado na Bíblia seria afinal um cacho de bananas. Na mesma linha, na Idade Média, os cristãos chamavam à bananeira Pomum paradisi (maçã do paraíso), e segundo outros seria aquela a fruta estranha que levou Eva a prová-la (No Génesis Deus dá o domínio ao homem “de todas as árvores que dão fruta com semente”, havendo uma árvore com um fruto proibido, esse não deveria ter semente, pela lógica, outro concorrente será o figo, e não a maça tão estilizada)

Em relação ao cultivo, o zero vegetativo da parte aérea, na referência que encontrei mais séria, situa em -2ºC, sendo eliminada a parte aérea, podendo mesmo assim poder produzir novos rebentos quando a temperatura aquecer, o problema é o tempo que vai desde o crescimento da planta até o cacho estar pronto para colher, é quase um ano.
Outra questão importante é a gestão dos rebentos, deve-se usar o princípio mãe-filha-neta, ou seja ter três rebentos de idades diferentes e não deixar crescer 6 ou 7 no mesmo ano, como às vezes acontece, existindo, devem deslocar-se para outro lado, assim existe uma vantagem em concentrar grande parte do vigor num único cacho.

Bibliografia – Fruticultura tropical, J.Mendes Ferrão, Vol. II, IICT, 2001

terça-feira, 23 de janeiro de 2007

Zero vegetativo

Uma das perguntas que me fazem em relação às minhas "experiências" com as plantas, é relacionada com o facto de muitas vezes certas culturas estarem relacionadas com o clima tropical e com condições diversas das de Portugal. Só que em zonas tropicais existem montanhas (os Andes na América do Sul são o exemplo mais ilustrativo) e vários tipos de ecossistemas diferentes.

Vou tentar nas plantas que falar, definir uma variável que tem a sua subjectividade, que é o zero vegetativo, ele indica a temperatura a partir da qual a planta não sobrevive.

A subjectividade desta variável prende-se, entre outras questões, com o seguinte:
- No caso de uma árvore, se já passou a "infância" ou não. Vou chamar de "infância" ao facto de uma árvore que nasceu por semente já apresentar casca lenhosa ou não no tronco, e chamo casca lenhosa, quando a árvore perder o tom verde no tronco até à bifurcação das folhas
- A temperatura correspondente ao zero vegetativo pode ter o período de um dia, ou seja uma geada que durante uma noite atingiu esse valor, ou a mesma temperatura ter que atingir durante vários dias o mesmo valor mínimo, para existir danos totais na planta.
- O zero vegetativo pode provocar a seca da parte aérea da planta, mas o sistema de raízes estar suficientemente desenvolvido ou não para poder desenvolver novos rebentos.
- A fonte de informação sobre estes valores, muitas vezes diverge, com a atenuante de serem de locais diferentes.



sexta-feira, 19 de janeiro de 2007

Miguel Torga

"O que é bonito neste mundo, e anima,
É ver que na vindima
De cada sonho
Fica a cepa a sonhar outra aventura...
E que a doçura
Que se não prova
Se transfigura
Numa doçura
Muito mais pura
E muito mais nova"...
Poema do homem, Coimbra, 1950

terça-feira, 16 de janeiro de 2007

Quiabo

O quiabo, Abelmoschus esculentus (L) Moench (antigamente Hibiscus esculentus, L), é uma planta da família das Malvaceae, originária da Etiópia, África.
A utilização do quiabo em culinária é como um legume, que se deve usar ainda verde, antes de começar a atingir a maturação, como o feijão verde, ao utilizá-lo, já maduro, está cheio de fibras.
A primeira reacção de um colega meu que viu os quiabos, foi a de dizer que eram muito picantes, o que não é verdade, mas percebi a ideia, associava o quiabo a uma série de pratos africanos que normalmente são servidos com piripiri, além da forma lembrar uma malagueta verde.
A adição do quiabo a um qualquer guisado ou comida com molho, não altera o sabor do prato final, o que pode alterar é a textura do molho, já que o engrossa, como quando se adiciona a farinha Maizena (passe a publicidade). Se colocar muitos quiabos no molho ele aparece com uma textura própria que é aproveitada em muitos pratos africanos e brasileiros.
Experimentei plantá-lo pela primeira vez o ano passado e cresceu bem, Dá-se bem em solos pobres e necessita de pouca água, o seu excesso até pode limitar o crescimento. Tipicamente planta-se como os pimenteiros. Com os primeiros frios a planta seca, o que aconteceu o ano passado só em Dezembro. A fotografia do post é de Outubro.
È uma planta erecta com um só caule que vai desenvolvendo os frutos lateralmente.
Das fibras do seu tronco fazem-se tecidos.

quarta-feira, 10 de janeiro de 2007

Bertold Brecht

Do rio que tudo arrasta, diz-se que é violento, mas ninguém diz que as margens, que o oprimem, são violentas.

domingo, 7 de janeiro de 2007

Erva-luísa

Hoje recomenda-se um chá, Erva-luísa, conhecida também como Lúcia-lima, Bela-aloísia, Bela-luísa e Limonete. Para os Brasileiros é a erva-cidreira, o que dá origem às vezes a várias confusões. A primeira fotografia é do tronco, em termos estéticos gosto dos troncos das árvores, além de muitas vezes ajudarem numa classificação particular, contam também a história de uma árvore ou arbusto em particular
Em termos de classificação botânica é outra série de nomes, sem eu saber qual a actual classificação, Lippia triphylla (L’Hérit.) O. Kuntze, Aloysia triphylla (L’Hérit.)Britton, Lippia citriodora L. e Verbena citriodora Cav..Agradeço ajuda para encontrar a denominação exacta.
È usado e recomendado pela farmacopeia, como digestivo e calmante suave.
Não deve ser tomado chá consecutivamente por períodos muito longos, pois pode provocara perturbações gástricas.
A essência é usada, directamente ou diluída, como repelente de insectos.