quinta-feira, 19 de maio de 2011

A cerejeira



A cerejeira da Maria adiantou-se à Primavera, queria estar presente quando a árvore se encher de flores, queria receber os passarinhos que precisam dos seus braços para cantar.
As abelhinhas andavam numa azáfama a arrumar a casa, porque sabiam que a cerejeira da Maria estava a começar a rebentar e queriam fazer o melhor mel do ano.
As joaninhas também por lá andaram, a comer pequenos insectos para proteger as flores.
Um ratinho que morava no tronco do castanheiro comentou com a toupeira:
- Não faças buracos na terra junto das raízes da cerejeira, ela ainda é muito pequenina, temos que a tratar muito bem!...
Até o Tiago, nas suas arrumações, passou a respeitar aquele espaço, o espaço da mana, muito varrido, para receber as pétalas das flores.
A vizinha, ao ver todos aqueles cuidados, perguntou:
- Que se passa?
E logo apareceu a raposa, esperta, fina, um pouco metediça.
- Então não sabes?
Nasceu uma cerejeira!
- Uma cerejeira? – Perguntou o gaio.
E o melro que por ali andava repetiu: Uma cerejeira!...
- Boa novidade! Quer dizer que vamos ter cerejas!
A dona coruja ainda muito ensonada: é o que faz andar em noitadas… - atalhou logo: É uma “princesa da árvore de flores abertas” chama-se “Sakura”
O mocho muito senhor do seu nariz, com um ar muito doutoral, explicou:
Uma princesa desceu do céu e caiu sobre uma árvore que se cobriu de flores na Primavera a que os Japoneses chamam “Sakura” e que é o seu símbolo. Se guardarmos as flores conservadas em sal as pétalas transformam-se no chá, o “sakura-yu”, um chá muito especial que é servido em cerimónias como o casamento.
- Já cá faltava o doutor! Mas fique sabendo que eu também conhecia a “Sakura”, e já ouvi falar de “hanami” e piqueniques organizados na altura de contemplar as cerejeiras floridas.
Com a chegada da noite os animais foram indo para as suas casas, apenas ficaram por ali a coruja e o mocho, muito ocupados com as suas actividades nocturnas, e a cerejeira sentiu-se só e um pouco assustada com o grunhir do javali, mas olhou para o céu e logo se sentiu acompanhada por uma infinidade de estrelinhas muito brilhante. Uma delas tinha um brilho muito intenso e disse-lhe:
Princesa não tenhas medo! Eu sou a tua estrela, também fui menino e estou aqui para te proteger, eu serei sempre a tua guia…
E assim foi. Todos os anos a cerejeira crescia, cobria-se de flores, de cerejas, de folhas verdes, que no Outono ficavam vermelhas e amarelas, no Inverno caíam, uma a uma, para ficar mais leve durante o soninho do Inverno.
E foi sempre assim até que um dia a Maria trepou à árvore para apanhar cerejas vermelhas, carnudas, brilhantes, sedutoras, encantatórias e ouviu uma voz que lhe disse:
- Faz uns brincos de princesa com as minhas cerejas, e a Maria assim fez
- Olá avô! Estou linda?



terça-feira, 17 de maio de 2011

José Saramago

Privatize-se tudo, privatize-se o mar e o céu, privatize-se a água e
o ar, privatize-se a justiça e a lei, privatize-se a nuvem que passa,
privatize-se o sonho, sobretudo se for diurno e de olhos abertos. E
finalmente, para florão e remate de tanto privatizar, privatizem-se os
Estados, entregue-se por uma vez a exploração deles a empresas
privadas, mediante concurso internacional. Aí se encontra a salvação
do mundo... e, já agora, privatize-se também a puta que os pariu a
todos.»

José Saramago - Cadernos de Lanzarote - Diário III - pag. 148

e Obrigado

terça-feira, 10 de maio de 2011

Mangueiras em flor

Esta mangueira, (árvore de fruto para os mais distraídos) Mangifera indica L., foi reproduzida pelo método que expliquei neste blog, o ano passado deu as primeiras mangas, mais pequenas que o fruto donde se tirou a semente mas muito mais doces, muita fibra no fruto. Daquelas que dá gosto ir chupando tudo até ao caroço.
Este ano está com muitos cachos de flores. Os frutos,embora cedo para acalantar esperanças, se começarem a vingar muito tenho que começar a podá-los, a árvore terá ainda 2 metros.
Este ano as árvores tropicais com esta humidade toda estão a gostar.

quinta-feira, 5 de maio de 2011

Na Gulbenkian, amanhã

Ambiente. Porquê Ler os Clássicos,
Viriato Soromenho-Marques, responsável pelo programa Gulbenkian Ambiente, falará sobre a primeira obra:
Walden ou A Vida nos Bosques
,
no dia 6 de Maio, às 18h, no Auditório 3 da Fundação. Os comentários estarão a cargo de Isabel Capeloa Gil.

Fui para os bosques porque pretendia viver deliberadamente,
defrontar-me apenas com os factos essenciais da vida,
e ver se podia aprender o que ela tinha a ensinar-me, em vez
de descobrir à hora da morte que não tinha vivido.


Walden; ou, A Vida nos Bosques (1854) é Henry David Thoreau

segunda-feira, 2 de maio de 2011

As cerejas bem vindas


No sábado comemos as primeiras cerejas do ano. Eram da freguesia de Alcongosta, cujo nome dá quase tanto gosto de pronunciar como comer as cerejas que lá magicam.
Eram verdes, verdinhas e eram caras: dez euros o quilo. Comprámos, pacatamente, meio quilo, mas a receita rendeu-nos 50 cerejas gordas e luzidias a cinco cêntimos cada bochecha, já que cada cereja tem duas,que até às vezes são marcadas, como as bochechas do rabos.
Nunca tínhamos comido cerejas tão cedo. A senhora a quem comprámos avisou-nos que era um “bocadinho amargas” e que mais valia a pena esperarmos uns dias, até chegarem as cerejas de Resende, essoutra distinta freguesia do Fundão, que viriam mais doces e mais baratas.
“Pode provar”, consentiu como quem diz “quem te avisa teu amigo é”. Desafiei-a e puxei de uma delas. Que ácida e carnuda luxúria experimentei! Voltei ao século XIX – transportei-me. Os caroços eram verdes e as cerejas cantou a Maria João, sabiam a flor – à sakura japonesa – e a chuva. O sol e o açúcar já estavam apaixonados e já eram noivos, mas ainda não se tinham casado com cereja nenhuma. Que boas que eram estas cerejas ainda solteiras mas já prometidas, boas de pleno direito, perfeitas para quem gosta mais de presenças do que de esperanças.

Não são as cerejas doces, baratas, abundantes e deliciosas que aí vêm. São estas ácidas, caras, raras e deliciosas que aí andam agora que estão prestes a desaparecer. Ambas são, desigualmente, bem-vindas.
Miguel Esteves Cardoso - in Público (coluna diária - Ainda ontem) 2/5/2011

Miguel Esteves Cardoso, na minha opinião, é um colunista que às vezes escreve bem sobre coisas interessantes, às vezes estes períodos são curtos.
Desta vez gostei do texto mas integrou-me as cerejas verdes, amarelas sim, verdes nunca vi, serão mesmo apanhadas verdes e não passam desta cor ou é alguma tentativa de vender mais cedo a 10 euros o kilo?


domingo, 1 de maio de 2011

Eclesiástico

O Senhor produziu na terra os medicamentos;
o homem sensato não os desprezará.

Antigo Testamento, Ecli 38:4, (sec. II AC)
Bíblia; 19ªedição dos Capuchinhos