quinta-feira, 28 de abril de 2011

Azereiro

Esta árvore (ou arbusto?), Prunus lusitanica L. subsp. lusitanica., encontra-se na lista vermelha da IUCN , sendo considerada em perigo de extinção. Poucos se vêm em Portugal, embora seja uma árvore nativa, aparecendo muito menos do que merece em jardins e em parques. Também espalha o nome de Portugal por este mundo fora, em francês, Laurier du Portugal, em inglês, Portugal laurel.

A associação ao nome de louro, penso que tem a ver com a folhagem persistente e o tipo de brilho semelhante ao do loureiro. Pouco conhecida em Portugal, pouco se vê nos viveiristas mas usada como ornamental pelo mundo fora.

Antigamente era usada como cavalo para o enxerto de garfo em espécies do género prunus. O fruto é considerado comestível, mas só quando está completamente maduro. É muito apreciada pelos pássaros. Embora as suas congéneres do género prunus sejam de folha caduca esta espécie é de folha persistente. Tem um parente próximo que também se encontra na Red list da IUCN, o azereiro dos Açores, Prunus lusitanica L. subsp. azorica (Mouillef.)

Este é um aproveitamento dum post de um blog meu antigo, fui consultar a edição da Red list de 2010 e já não encontro referência ao azereiro.


terça-feira, 26 de abril de 2011

Sepentárea







Porquê o nome serpentárea?
No que encontrei, a razão mais relevante será a de que as suas folhas e raízes protegiam contra as serpentes. Essa referência é antiga, o autor é Johann Wonnecke von Kaubque que latinizou o seu nome para Johannes de Cuba, médico em Frankfurt e publicou o que é considerado um dos primeiros livros de história natural, Gart der Gesundheit (1485) posteriormente traduzido para latim com o título de Hortus sanitati (1491), que se poderá traduzir como um Jardim Saudável ou o Jardim da Saúde,um livro em que aceita muitas lendas, sem crítica de análise, tipo sereias e Minotauro (existe quem refira a primeira publicação em 1473).
Natural da zona entre a costa mediterrânea grega e as Balcãs.
Não parece uma planta mediterrânea, mais se assemelha a uma flor tropical.
Trata-se do Dracunculus vulgaris, Schott. (1832), da família dos jarros. É considerada semi-espontânea em Portugal, com vários nomes, desde planta cobra, serpentina, líriodragão (tentando traduzir o nome inglês).
O apêndice central da flor, no caso da fotografia tem 70 cm de comprimento, dizem que pode chegar aos 135cm em jardim.
Com esta beleza toda tem um senão, quando a flor abre cheira a carne podre, durante um dia ou dois, assim atrai as moscas que são os seus polinizadores.

Todas as partes aéreas são venenosas.

Encontrei um site que relata o uso dos bolbos, na sua zona de origem, na alimentação, mas que seria necessário fervê-los durante um tempo considerável para libertar as toxinas ( amodos como o inhame nos Açores).

domingo, 24 de abril de 2011

Ka’a He’e ou como uma planta pode começar uma guerra



A Ka’a He’e, que significa folha doce no dialecto guarani, povo originário da zona da América do Sul entre o Brasil, Paraguai e Bolívia.

No Ocidente a primeira referência vem de Petrus Jacobus Stevus (Pedro Jaime Esteve), físico e botânico espanhol, a latinização do seu nome deu origem a stevia (Stevia Rebaudiana Bert.), Desde estes primeiros contactos que esta planta é referenciada como adoçante.

A história como tantas outras começa a ter o seu quê de caricato.

Em 1899 um botânico suíço, Moisés Santiago Bertoni, durante uma expedição ao Paraguai, descreveu em detalhe o sabor a utilização da planta

A partir dos anos 60 do século passado, pretendeu-se utilizá-la como adoçante alternativo ao açúcar extraído da cana. São referenciados vários valores em termos da potência adoçante relativamente ao açúcar, desde 30 a 45 considerando a folha fresca, que é utilizada individualmente ou nos chás e comidas.

250 a 300 vezes considerando só um dos compostos, a stevioside (Steviol glycoside, ou esteviosídeo em brasileiro), descoberta por purificação do extracto seco em 1931 por dois químicos franceses. Esta substância é estável perante o calor da confecção dos alimentos, tem um PH estável e não fermenta.

Em 1971 uma empresa japonesa Morita Kagaku Kogyo Co. Ltd, começou a produzir um adoçante de nome stevia, que passou a ser utilizado em produtos alimentares, bebidas e como substituto do açúcar de cana à mesa. Neste momento 40% do açúcar utilizado no Japão tem esta origem. Uma das razões deste sucesso foram estudos realizados no Japão que demonstram que este adoçante natural é bem tolerado pelos diabéticos, não produzindo efeitos secundários .

Na Europa, a últimas directiva (2000/196/EC) referente a esta planta, baseado num - Opinion on STEVIOSIDE AS A SWEETENER (CS/ADD/EDUL/167 final 17 June 1999) diz que é recusado a autorização de entrada no mercado da planta ou de qualquer extracto dela proveniente.

Este estudo conclui que o esteviosídeo pode apresentar problemas para a saúde humana nomeadamente problemas cancerígenos e na fertilidade masculina. A tese é baseada em estudos de várias universidades. Note-se que as doses utilizadas em animais chegam a ser de 2500 mg/kg por dia, (embora comecem com 10 mg/kg/dia).

Em contas rápidas:

2500mg=2,5g

Uma pessoa com 50 Kg, teria que tomar durante 30 dias seguidos

2,5x50=125g

Um pacote de açúcar tem o peso médio de 7g.

125g/7=18 pacotes

O estudo reconhece que o poder adoçante é 250 a 300 vezes o da sacarose

18x300= 5400 pacotes

A conclusão é que referência do estudo chega a um caso limite em que se estão a dar o equivalente a 5400 pacotes de açúcar por dia a uma pessoa de 50kg, no caso eram ratos de laboratório (tipo F344).

Os ratos machos desenvolveram tumores nos testículos. Notam também que com um terço da dose não foram detectadas anomalias.

Sobre o consumo ao natural existe outro estudo da comunidade  Europeia - Opinion on Stevia Rebaudiana Bertoni plants and leaves (CS/NF/STEV/3 Final 17 June 1999). Neste caso dizem que não havendo estudos que provem a segurança do consumo em fresco da planta esta não é permitida no espaço Europeu, entretanto a França conseguiu uma autorização especial para a sua cultura de modo a estabelecer parâmetro s de cultivo (patentear uma variedade?).

Nos Estados Unidos da América foi proibida, sendo permitida à pouco tempo só como suplemento alimentar.

O aspartame é um adoçante artificial criado em laboratório e descoberto por acaso por um químico da empresa G.D. Searle em 1965. A Monsanto comprou a G.D.Searle em 1985. A produção está assim garantida sob o escudo da patente.

Dizem as más-línguas que uma planta, que não pode ser patenteada, com estas características poderia causar algum dano na indústria deste produto.

A Coca-Cola com uma experiência feita no Japão está a tentar introduzzir este composto na confecção da suas bebidas.

A stevia na minha varanda deu-se bem com este Inverno, e está a florir agora, e embora, sob o risco de cometer uma ilegalidade, este post foi escrito mastigando umas folhas.

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Nepeta?


O cheiro agradou-me a floração também, comprei-a como sendo Nepeta nepetella, L.

Comecei a comparar e quase que parece o Marroio-negro, Ballota nigra. Seca no Inverno e volta a rebentar na Primavera, na mesma toiça, não se propaga como as hortelãs.

Alguém me ajuda?

Procurando melhor, deve ser : Calamintha nepeta (L.) Savi, ssp nepeta

Nomes Vulgares: Nêveda, calaminta ou erva-das-azeitonas; erva gaiteira, erva-dos-gatos;


sexta-feira, 8 de abril de 2011

A construcção do silêncio



  • […] É aquele o momento em que o silêncio se constrói na intimidade do ouvido, num fervilhar de rumores, num súbito crocitar, num trilo, num murmúrio velocíssimo entre as ervas, num estalido na água, num pequeno e miúdo caminhar entre as pedras e a terra e, sobre tudo isto, no canto seco da cigarra. E os rumores misturam-se e casam-se uns com os outros e o ouvido consegue distinguir sempre ruídos novos e diferentes entre o amálgama dos antigos, como os dedos que, desfazendo uma flor, encontram em cada estame não uma unidade, mas uma teia intricada de fios sempre mais subtis e impalpáveis do que os anteriores.


  • E entretanto as rãs, que continuam com o seu coaxar a servir de fundo a todos os rumores, sem que se transmute o fluxo dos sons, da mesma maneira que para o amigo fiel das estrelas continua sempre igual o brilho dos astros. Agora porém, a cada despontar e correr do vento, todos os rumores mudavam e se faziam diferentes e novos. Somente no recanto mais e íntimo do ouvido continuava aquela sombra de mugido rouco ou de murmúrio: era a voz do mar. […].

Pag. 103 – 104 O Barão Trepador Italo Calvino (1957) Colecção estórias – Teorema (1999) Tradução de José Manuel Calafate