sábado, 26 de fevereiro de 2005

Dêem asas ao sonho e vozes às gentes



Dêem asas ao sonho e voz às gentes.
Repovoe-se a vila abandonada
e emprenhe-se a terra de sementes.
Plantem-se sebes de urzes e de jasmim
dividindo imaginários lamaçais,
faça-se tudo o possível e mesmo assim
se necessário faça-se mais,
para dar água ao deserto e sol à eira
mobilizando a esperança por decreto
se não houver então outra maneira.

Invente-se a forma mais expedita
de deixar escrita a fogo a tradição
de como criar gado e fazer queijo,
retirar o mel e fazer vinho,
jogar o chinquilho e cardar lã,
bordar o lenço a ouro e tecer linho,
de guardar o cheiro intenso da maçã.

Se preciso for, chamem-se os homens
que vivem p'ra fazer viver o sonho,
se preciso for gritar então que eu grite
até que a voz me falhe e eu fique rouco,
se preciso for voar, que cresçam asas,
e se loucura é isto que seja louco.

 Luís Filipe Duarte (do livro Por dez reis de mel coado, 2000)

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