segunda-feira, 14 de novembro de 2005

Sementeira

    Cresce a semente
    lentamente
    debaixo da terra escura.
 
    Cresce a semente
    enquanto a vida se curva no chicomo
    e o grande sol de África
    vem amadurecer tudo
    com o seu calor enorme de revelação.
 
    Cresce a semente
    que a povoação plantou curvada
    e a estrada passa ao lado
    macadamizada quente e comprida
    e a semente germina
    lentamente no matope
    imperceptível
    como um caju em maturação.
 
    E a vida curva as suas milhentas mãos
    geme e chora na sina
    de plantar nosso suor branco
    enquanto a estrada passa ao lado
    aberta e poeirenta até Gaza e mais além
    camionizada e comprida.
 
    Depois
    de tanga e capulana a vida espera
    espiando no céu os agoiros que vão
    rebentar sobre as campinas de África
    a povoação toda junta no eucalipto grande
    nos corações a mamba da ansiedade.
 
    Oh! Dia de colheita vai começar
    na terra ardente do algodão!
 
    1955 1a Versão José Caveirinha

1 comentário:

Anónimo disse...

Parabens pelo poema.... toutchy!!!