O que dirá de mim o castanheiro do outono
a estação do que passa e se desfaz
Esqueci a minha infância e não sei nada
Estou à sombra e espero alguém virá
sombria melodia do meio-dia
o perfume dos campos cavalgados
na quente luz do dia em que eu vivia
Alguém me chegará desse distante bosque
onde eu errei a minha juventude
nas formas levemente tacteadas pelos dedos
Não me demoro ou moro em sítio algum
já nada significam as palavras
neste deserto onde vigilo e estou desperto
terrivelmente só dentro da noite.Ali
no silêncio profundo da floresta ao
teu singular olor de singular mulher
crucifiquei a minha juventude
A vida tem aspectos criminosos como
a subida da chama silenciosa na hasta da mulher que se
procure
Não há nenhum regresso nos meus passos
a lua era outra lua de hora a hora
a natureza espera-me faz-me sofrer
troncos incendiados no outono
depois adormecidos no inverno
o aspecto humano de uma terra cultivada(...)
Excertos de Despeço-me da Terra da Alegria, in Obra Poética de Ruy Belo, vol 2, Editorial Presença, 2ª edição, Lisboa, 1990
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