Gosto do eucalipto. Esta minha afirmação não costuma ser bem compreendida. Vem normalmente à discussão o mal das plantações de eucaliptos em massa, concordo, é uma questão diferente da quero falar hoje aqui.
O eucalipto como árvore isolada ou encadeada num meio de um arboreto, não deixa de ser uma árvore imponente e bela. Estou-me a lembrar como exemplo maior, os eucaliptos na mata do Buçaco.
Tenho outras razões para gostar do eucalipto. Na minha infância, no bairro onde morava, em frente da casa, havia uma pequena rua só para uso do bairro, a seguir uma faixa de terra que nos separava da estrada principal.
Nessa faixa de terra havia uma fileira de plátanos alguns 30, mas novos, com pouca idade, pequenas árvores que “pouca luta” davam quando queríamos subir a elas. Com a mesma idade, penso eu, havia dois eucaliptos.
Estes dois eucaliptos já os recordo como árvores de respeito. Havia na altura o hábito de se referenciarem árvores grandiosas, que o seriam tanto mais, quantos mais homens fossem necessários para abraçar o seu tronco. Aqueles eucaliptos estavam entre os dois e três miúdos de 10 anos, dois não conseguiam, três já dava folga, para nós, eu e os meus colegas da brincadeira eram as árvores mais grandiosas do nosso universo.
Mas a prova que não éramos a primeira geração de miúdos a olhar para eles duas vezes, estava no seu troco. Nada de um eucalipto de tronco direito e altivo. Tronco inclinado, retorcido, muitos ramos laterais e com uma copa larga.
Era o nosso ponto de encontro no Verão, principalmente nos dias quentes. Era também o ponto de retorno das brincadeiras, corríamos estafados e suados para a sua sombra. Os pequenos plátanos ainda não conseguiam oferecer a sombra que resistisse ao calor.
Era nessa altura que começava a caça aos pequenos pedaços da sua casca, em fatias estreitas, fixas com um arame em cima de uma cana, construíam-se, pequenos “geradores eólicos”, tanto mais perfeitos quanto as curvas e contracurvas da casca fossem trabalhadas. Proporcionavam um modelo aerodinâmico, para nós na altura, que podia concorrer com os modelos dos aviões do Major Alvega.
Claro que o tronco dos dois eucaliptos estava sempre praticamente liso.
Hoje já não existem os eucaliptos, continuam os plátanos e a fazer boa figura, já árvores a caminho doa sua plenitude.
No jardim de Évora, na zona chamada Parque das merendas, deparei-me com este eucalipto, majestoso… Tanta matéria-prima desaproveitada. E a razão destas recordações.
5 comentários:
Claro que os pobres eucaliptos não têm culpa do que fazem com eles!
Quando os deixam ser árvores, o que não é normalmente o caso das matas cultivadas, são árvores lindíssimas. Mas se vieres para a zona de cultivo intensivo do eucalipto não vais achar isso. Não formam ramos, ou são eliminados porque o que interessa é o 'pau' - o tronco único para cortar. Às vezes formam-se pequenos ramos no tronco, mas com o sombreamento mútuo ficam secos, sem folhas. Uma vez tirei uma foto para colocar no cores da terra, para as pessoas perceberem como ficam as árvores em cultura intensiva, mas era tão feia que não me apeteceu colocá-la lá.
Quando se olha ao longe para uma mata vê-se uma massa uniforme em que não há quase mais nada. (Sendo exóticas bastante diferentes não albergam fauna, e também não permitem que uma grande diversidade de flora cresça por perto) Não tenho nenhuma implicância com a árvore em si, mas as matas parecem-me quase um deserto. E além disso, quando alguma atinge o tamanho suficiente para formar semente, se a zona for atingida por um incêndio, eles nascem em massa. O que revela características invasoras, quando estamos a ficar cada vez mais sujeitos a incêndios.
Desculpa o discurso, mas quando se vive no meio deles é inevitável este amargo. :)
Obrigado pela visita jardineira,
Compreendo-te, tenho visto, infelizmente muitas matas de eucaliptos.
E quando se entra numa mata de eucaliptos, tenho uma sensação estranha. o silêncio que existe
Também gosto de eucaliptos, e pelas mesmas razões, recordações antigas.
Para todos os amantes da natureza e quem procura destinos, visitem, registem-se e partilhem locais: http://destinosenatureza.forumeiros.com/
Concordo com o que a Jardineira disse. Talvez nada seja inerentemente ruim em si, muito menos podemos dizer que árvores poderiam ser "culpadas". Prejudiciais? Às vezes sim, porque a irresponsabilidade das pessoas as colocou nessa situação. Também tenho boas recordações de eucaliptos, mas quando fazia a sexta série (atual sétimo ano) e li no livro de ciências que uma planta dessas pode retirar do solo água equivalente a trinta vezes o seu peso por dia, abandonei a ideia de plantar uma dessas e conhecendo menções aos efeitos alelopáticos do eucalipto (dificulta o desenvolvimento de outras espécies vegetais nas proximidades, pra simplificar) aí eu realmente passei a considerar a última opção a ser plantada por mim. O que eu recomendaria para quem não abre mão de plantar uma árvore desas, é escolher cuidadosamente o lugar (de preferência LONGE de florestas naturais ou áreas conservadas), pois se você plantar em uma área já alterada, como um pasto ETC. (e que não sofra pela falta d'água) estará reduzindo os riscos de impactos ambientais negativos. São mesmo belas árvores e podem embelezar a paisagem e até mesmo servir de suporte para ninho de aves ariscas, que nidificam "nas alturas" (mas cuidado com o local, se for plantar! Árvores nativas são sempre a melhor opção). O problema das plantações de eucaliptos é que existe uma diferença fundamental entre uma floresta de eucaliptos (nociva como toda monocultura) e uma comunidade vegetal (conjunto de espécies), é aí que está o segredo do aspecto "vazio" das plantações de eucaliptos. É um questão complicada. Caso queiram, sintam-se convidados a visitar o "Metalink: Ciência e Filosofia repensadas", onde eu costumo fazer alguns textos sobre natureza para quem gosta de refletir sobre o assunto (e discutir, se quiserem): http://metalnk.blogspot.com.br/2014/12/o-naturalista-do-amador-ao-cientista.html. Abraço, gostei do texto e da discussão.
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