domingo, 5 de março de 2017

Darwin, Huber, as azedas, os piolhos e as formigas




 Azeda - Rumex sanguineus L
Entre os exemplos que conheço de um animal que executa um ato com o fim único aparente de este ato aproveitar a outro animal, um dos mais singulares é o dos pulgões, que cedem voluntariamente às formigas o líquido açucarado que segregam. Foi Huber que primeiro observou esta particularidade, e os fatos seguintes provam que este abandono é muito voluntário. Depois de ter tirado todas as formigas que cercavam uma dezena de pulgões colocados numa planta de Rumex, impedi durante algumas horas a aproximação de novas formigas. Ao fim deste tempo, convencido de que os pulgões tinham necessidade de excretar, examinei-os à lupa, em seguida procurei com um cabelo acariciá-los e irritá-los como fazem as formigas com as antenas, sem que qualquer deles excretasse fosse o que fosse.
Deixei depois chegar uma formiga, que, na precipitação dos seus movimentos, parecia consciente em ter feito um precioso trabalho; começou logo a palpar sucessivamente com as antenas o abdômen dos diferentes pulgões; cada um destes, a este contato, levantava imediatamente o abdômen e excretava uma gota límpida de líquido açucarado que a formiga absorvia com avidez. Os pulgões mais novos faziam o mesmo; o ato era, pois, instintivo, e não o resultado da experiência. Os pulgões, segundo as observações de Huber, não manifestam certamente qualquer antipatia pelas formigas, e, se estas faltassem, acabariam por emitir a secreção sem o seu concurso.
Mas, o líquido sendo muito viscoso, é provável que seja vantajoso para os pulgões o serem desembaraçados dele, e por isso o não segreguem para simples vantagem das formigas.

in  DARWIN, Charles. A Origem das Espécies, no meio da seleção natural ou a luta
pela existência na natureza, 1 vol., tradução do doutor Mesquita Paul.pag. 276

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