quinta-feira, 21 de julho de 2011

Requiem por um choupo

Populus Nigra, cultivar italica no Parque das Nações - Lisboa
Era uma cidade com aromas de viajem,
Aquela onde um dia fui criança,
Esta noite estrangularam outra árvore habituada
A ver-me passar, e ninguém se importou com o assunto.
E eu que varri muitas folhas derramadas dessa farta
cabeleira num Outono já distante estremeci
com o ruído seco do velho choupo a morrer.
Aconselharam-me a ficar calado:Não há tempo para escutar
canções de melros entre ramagens.
Mas sou teimoso!Ridículo é aceitar que o alcatrão
vença e os anestesiados se dirijam cada vez mais velozes
para a sua verdade infeliz!
Então peguei no meu caderno de emoções
e escrevi com uma lágrima de raiva:
Quando a cidade não ama
As suas árvores, que medalha
deverá um Poeta pôr no peito
dos que a governam?         

  Luís Filipe Maçarico, in "A Essência"